Segundo Ethel Bauzer Medeiros, “Uma prática milenar e desvirtuada”.
O uso de drogas não é novidade. Desde a origem dos tempos os homens recorre a certas substâncias quando quer alterar o funcionamento do seu organismo.
Ultimamente, porém, sobretudo a partir da Segunda Guerra Mundial, e mais ainda da década de 60, começou a se exceder muito nestas práticas. Além de ir sempre sintetizando novos produtos, vem aumentando a concentração – e a potência – das drogas tradicionais. Neste caso, o seu emprego para objetivos não médicos e não científicos foi tomando vulto. Em poucas décadas, alcançou todas as camadas sociais e todas as faixas de idade, inclusive a infância.
Se na antiguidade o seu emprego obedecia a preceitos e rituais que mantinham dentro de limites estreitos da tradição, nos dias agitados e permissivos de hoje, generalizou-se tanto, que teve que ser disciplinado por leis.
Ao mesmo tempo, a circulação destas substâncias vem sendo facilitada e alargada. E, assim, recursos tradicionalmente ligados à sobrevivência e a cultos religiosos – pois integravam as artes da cura e da magia degeneraram em fator de enfermidade, desajuste, dependência física e psicológica, criminalidade e até morte.
E tudo isto foi ocorrendo em um mundo em rápida transformação, que nos últimos tempos vem alterando muito o meio físico, a forma de trabalhar e a própria vida social. Percebendo ter como palavras de ordem inovar e contestar, vem mudando tudo depressa, deixando aturdidos os que não conseguem atualizar suas informações nem criticar tantas “novidades”. Cegamente vão aderindo à “ultima onda”, que os modernos meios d comunicação social levam até os mais remotos povoados.
Já que não existe comportamento humano sem causa, há que buscar os motivos de tanta deturpação. Só os descobrindo será possível fazer aos enormes problemas pessoais, familiares e de toda a sociedade, gerados pela expansão de tamanho desvirtuamento.
A primeira ponderação é: se em qualquer povoado pode-se obter álcool, tabaco, produtos farmacêuticos e preparados químicos, além de drogas extraídas da natureza, há que estudar fatores pessoais, como os seguintes:
- A maneira pela qual cada um vê e sente o mundo e a si próprio (julga-se inatendido? acha-se incompreendido? faz bom conceito de si mesmo?)
- O grau de propensão de cada pessoa a ceder a incitamentos ou a imitar condutas que se afastam das costumeiras na comunidade.
O Ponto seguinte é: a mesma droga afeta de modo distinto os seus usuários, conforme:
- a constituição de cada um e o seu estado de espírito ao usa-lá, em função das experiências que dela espera obter;
- o ambiente em que a substância até consumida (confortável ou deprimente? escondido ou público? em grupo ou isoladamente?);
- o estilo de vida e as tradições da sociedade a que o consumidor pertence.
Entre os fatores que compõem concorrer para o seu uso indevido sobressaem:
- Exemplos de consumo ostensivo, em círculos que gozam de prestigio social, que tornaram símbolo de libertação;
- Pressões de usuário, notadamente de companheiros mais chegados;
- Propaganda mais ou menos aberta, feita por grupos interessados na difusão destas substâncias;
- Crença na própria “imunidade” aos malefícios das drogas (que só afetariam “os outros”, incapazes de “saber onde parar”);
- Facilidade de acesso Às drogas, que circulam amplamente em muitos meios;
- Certo imediatismo ou despreocupação com objetivos mais distantes (carência de um plano de vida);
- A permissividade dos nossos dias;
- A ociosidade;
As razões mais comumente alegadas para experimentar alguma droga, ou dela fazer uso indevido ocasional, compreendem:
- Curiosidade sobre as sensações que provoca (“pra ver o que dá”);
- Conformismo com o comportamento de determinado grupo, ao qual parece importante pertencer (“a turma toda usa”);
- Alivio das tensões que as frustações diárias vão acumulando (“pra desligar”, “esquecer” “melhorar o astral”);
- busca de energia, animação, coragem, ou bem estar (“transar numa boa”);
- Adesão a modismos, pela cópia do comportamento de ídolos (“ficar na onda”);
- Desejo de parecer adulto ou de mostrar autonomia em ralação ao grupo familiar e escolar (“cada qual na sua”, “pra liberar”);
- A anseio de aventura, excitação ou risco (“pra um agito”);
- Falta de motivação para outras ocupações (“só de curtição”);
- Facilidade de acesso À droga, cujo uso é tido como corriqueiro (“pinta por toda parte”);
- Procura de prazer imediato, sem preocupação com conseqüências a longo prazo (“pra entrar num barato”);
- Protesto contra normas sociais ou a autoridades em geral (“pra cortar a caretice” ou “não ser quadrado”);
já na continuação deste uso, que pode ser irregular (só em grandes comemorações ou nos fins-de-semana), ou então, constante, estes mesmos motivos se acentuam, e se alargam para abranger:
- Solidão, em geral ligada a dificuldade de comunicação (“ninguém quer nada”);
- Carência de afeto (“pra enfrentar este mundo sem amor”);
- Fuga a decisões penosas ou a problemas que parecem insolúveis (“acabar com uns grilos”);
- Despreparo para aproveitar a liberdade de escolha como simples vazio a ocupar (“pra passar o tempo”);
- Interesse em alargar horizontes e obter novas experiências espirituais, “expandindo a mente” ou aumentando a criatividade (“fazer a cabeça”);
- Combate ao cansaço ou ao sono, pela elevação do nível de vigilância (“pra poder encarar esta barra”);
- Ausência de objetivos distantes, dentro de uma perspectivas de vida mais ampla (“ficar numa legal”);
- Revolta contra um ambiente depressivo (“sair da fossa”);
- Redução de inibições perante outros (“pra se enturmar”, “descontrair”):
- Anseio de libertação de pressões ou mesmos internas, na busca da própria identidade (“ser mais eu”, “dono de mim mesmo”);
- Luta contra a ansiedade (“sair da pior”).
O prolongamento do uso regular da droga pode levar ao hábito e, até, desenvolver tolerância, ou seja, gerar a necessidade de doses crescentes da substância usada para conseguir o mesmo feito. Com o passar do tempo, este aumento progressivo da quantidade é capaz de elevar-ló a níveis que o organismo não suporta, isto é, de superdose, podendo provocar a morte.
Ouros graves perigos, embora não necessariamente associados ao desenvolvimento de tolerância, incluem:
Dependência física – condição na qual, ao interromper o uso da droga, o consumidor apresenta sintomas de privação (ou de abstinência) que variam segundo a natureza e a dose empregada (já se tendo adaptação à sua presença, o organismo sofre a retirada da droga, acusando reações de temores, vômito, delírio, cólicas ou, em caso mais sérios, convulsões às vezes seguidas de mortes);
Dependência Psicológica – estado no qual o usuário vive tão preocupado com a droga, que lhe custa muito passar sem ela, sentindo como que uma compulsão para consumir (situação frequentemente mais difícil de tratar que a da dependência física).
Porque que tanta gente faz uso indevido de droga? 2ª Ed, Refundida e Ampliada – Rio de Janeiro – V 1, 1986, 12p. – CDD 362.29386 – FUNDO SOCIAL DE SOLIDARIEDADE – DOTEC
By Calebe De Luca Bueno – Assessoria e Consultoria em SPA – Palestras e Seminários – Brasil.