NOVOS VENTOS
Por Walter Hupsel | On The Rocks – sex, 1 de fev de 2013
Depois de um século de proibicionismo, hipocrisias e milhões de vítimas da “guerra às drogas”, há um sopro de mudança no ar. Aos poucos vamos abandonando um moralismo seletivo que estimula algumas drogas e bane outras.
O consumo de ansiolíticos, um fármaco que diminui a ansiedade e a tensão, já supera o consumo de maconha na Espanha. Em Minas Gerais virou ‘moda’. Isso sem falar no enorme e estimulado consumo de bebidas alcoólicas, cujas propagandas podem ser vistas em qualquer canal de TV depois de um certo horário.
A ‘demonização’ de algumas outras drogas, e a consequente tentativa de bani-las, é uma história bem contada e documentada nos livros. As razões são sabidas e misturam disputas econômicas,preconceitos culturais e uma enorme dose de fanatismo religioso, para o qual o prazer deve ser proibido numa vida ascética.
Fracassada a tentativa de normatizar o prazer individual, de alguns dizerem o que um indivíduo pode ou não fazer consigo mesmo, fracassada fragorosamente a “guerra às drogas”, que só serviu para inchar os presídios, matar centenas de milhares de pessoas e jogar fora trilhões de dólares na tentativa de manter o monopólio da fabricação de drogas com a indústria farmacêutica, parece que a ficha está caindo.
Alguns estados americanos estão liberando o uso da maconha para fins medicinais, e outros, mais além, para o mero uso recreativo. A Colômbia estuda liberar tanto o ecstasy quanto o LSD (o porte de uma determinada quantidade de maconha e de cocaína já é legal)
No Brasil, há algumas parcas e louváveis iniciativas que se deparam com a velha ladainha do recrudescimento penal que alimenta uma enorme rede de prisões e corrupções.
Além de ser uma questão de liberdade individual, de um “crime sem vítima”, só a legalização do fabrico e do comércio evita que mais e mais mortes ocorram. É a ilegalidade que impele o comércio de entorpecentes ao crime, já que um comerciante de substâncias ilícitas não pode, por definição, usar o judiciário e o sistema legal.
Há uma perspectiva de mudança no ar. Talvez estejamos, finalmente, encerrando o autoritário século 20.