Marcela Spinosa
São Paulo - Os cigarros acesos nas mãos de quatro meninas rodeadas por sete meninos, sendo dois fumantes, na porta de uma escola na zona norte de São Paulo confirmam o que dizem os números: o sexo feminino supera o masculino quando o assunto é tabagismo na adolescência.
Pesquisa da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) mostra que 283 dos 2.829 alunos da Capital paulista fumam. Mas, 61% deles são mulheres e 39% homens.
Apesar de o estudo com jovens entre 14 e 17 anos ser de 2008, a entidade fez o recorte em relação ao sexo só este ano por causa do tema abordado no Dia Mundial sem Tabaco, a ser realizado amanhã: “Gênero e tabaco com ênfase no marketing para mulheres”.
“Quando o adolescente começa a fumar com frequência, em 3 meses ele está dependente. Temos de trabalhá-los para evitar que sejam os fumantes de amanhã”, diz a cardiologista e coordenadora da pesquisa Silvia Cury, do departamento de tabagismo da SBC.
A especialista aponta dois principais fatores para iniciação do tabaco entre meninas. O primeiro é o aspecto emocional. “A nicotina diminui a ansiedade. É uma muleta para não enfrentar os problemas. Mas estes não serão resolvidos se não forem enfrentados”.
E foram justamente as dificuldades na escola que levaram a estudante M.C., de 17 anos, a acender seu primeiro cigarro há um ano. “Estava em casa e estressada. Peguei um cigarro da minha mãe e acendi. Me senti muito mais relaxada”, recorda.
O “bem-estar” que ela sentiu está relacionado com a segunda condição que, para a cardiologista, leva as jovens a experimentarem o tabaco.
“Ao tragar, o fumo, em sete segundos, faz uma transformação química no cérebro com liberação de sensações de liberdade e prazer. Quando esse efeito passa, as sensações ruins voltam e é preciso fumar outro.”
Das 4.700 substâncias tóxicas presentes no cigarro, a única que causa dependência é a nicotina.
A longo prazo, além das dependências física e psicológica, pode causar doenças cardiovasculares e cânceres. Para a cardiologista e coordenadora do departamento de Tratamento de Tabagismo do Instituto do Coração (Incor), “começar a fumar em tenra idade também aumenta os riscos de distúrbios psiquiátricos”.
Isso porque o cérebro ainda está se formando e a nicotina substitui um dos neurotransmissores, a acetilcolina (ligada ao humor). “Isso modifica o funcionamento cerebral e favorece doenças emocionais”, diz a autora do livro “Deixar de fumar ficou mais fácil” (104 páginas; R$ 28,90; MG Editores).
Para reduzir os impactos do tabaco entre os adolescentes e fumantes em geral, a assessora técnica da Saúde Mental da Secretaria Municipal da Saúde, Darlene Dias, argumenta que não basta realizar ações educativas nas escolas. “Se não coibir a disseminação pela propaganda não teremos êxito com palestra educacional. As ações dos órgãos de saúde são no sentido de minar com ações legislativas para modificar a questão dos pontos de venda, da propaganda e dos rótulos”, avalia.
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