Meninas de até 18 anos já fumam praticamente como meninos, segundo pesquisa da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) obtida pela Folha.Os garotos que fumam são 8,6% da população entre 14 e 18 anos; as meninas somam 6,7%. Quando se mede o hábito de fumar na população como um todo, há um abismo a separar os homens das mulheres: 25% e 14%, respectivamente.
Não há uma pesquisa com a qual esse estudo possa ser comparado. Mas levantamentos anteriores do Ministério da Saúde mostravam que meninos e meninas fumando em proporções iguais era um fenômeno restrito a algumas capitais, como Curitiba. A pesquisa da Unifesp é a primeira a revelar esse fenômeno em todo o Brasil, segundo a psiquiatra Ana Cecília Marques, que coordenou o estudo, feito a partir de 3.077 entrevistas.
"As meninas consomem maconha, cocaína e álcool com uma frequência semelhante à dos meninos. A pesquisa mostra que isso ocorre também com o tabaco", diz ela. Maço com florzinha.
Há pelo menos três explicações para o aumento de adolescentes fumantes, de acordo com a psiquiatra.
- "A menina amadurece mais cedo, bebe mais cedo, tem uma vida sexual mais precoce. Por isso ela começa a fumar mais cedo", diz.
- Outro fator, segundo ela, é a pressão dos pares e da mídia -os meninos incitam as meninas a fumar, modelos e atrizes aparecem fumando na TV.
- Finalmente, a indústria descobriu que é possível criar produtos que atraiam as meninas."Maço de cigarro que vem com florzinha, com porta-batom lilás, com fone de ouvido, cigarros fininhos com nomes fashion como Vogue, logotipos que parecem o do Yves Saint Laurent.
Há ainda o que a entidade classifica de venda casada. Relógio e maço de Free são vendidos por R$ 10, caixa de iPod e maço de Lucky Strike custam R$ 12, fone de ouvido e L&M saem por R$ 10.
O Ministério Público de São Paulo endossa a posição da ACT de que as vendas casadas e os maços supostamente dirigidos para meninas são ilegais. "São produtos feitos para adolescentes. Meu pai não ouve iPod. Esses produtos não poderiam existir se a lei federal fosse respeitada. A lei proíbe brindes", diz o promotor João Lopes Guimarães Jr. Ele propôs um acordo para Souza Cruz e a Philip Morris, pelo qual as fabricantes retirariam esses produtos do mercado para não serem alvo de inquérito.
As empresas não comentam a proposta de acordo, mas dizem que não fazem propaganda nem vendem produtos para adolescentes.